Passei da fase Maria Antonieta. Se, há duas semanas, você me perguntasse com quem eu gostaria de tomar um chopp, não pensaria duas vezes antes de eleger a ex-governanta francesa. Maluca, viciada numa peruca e hostess de umas boas baladinhas lá em Versalhes, é aquela amiga festeira que eu sonharia ter.
Há quem defenda uma versão mais casta da figura. Mas na era dos reality shows prefiro mesmo é imaginar a versão “porra louca”. Pensa num remake de Mulheres Ricas – Alta Aristocracia com essa mulher. Seria insano!
Só não bato com a ideia na porta da Netflix porque agora eu tô em outra. Numa dessas voltas que o mundo dá, fui obrigado a dedicar algumas horas da minha vida à leitura de Chatô – O Rei do Brasil, de Fernando Morais.
A título de comparação, um graduando em jornalismo que desconhece Assis Chateaubriand pode ser equiparado a um fã assíduo de pop music que desconhece Madonna. Pois bem.
Gasto três horas do meu dia, em pé, dentro de um tubo metálico que corta o subsolo da cidade. Foi tempo suficiente pra adiantar umas páginas e mergulhar de cabeça na história maluca desse homem. Que o cara foi milionário, trouxe a TV pro Brasil e conheceu gente importantíssima, todo mundo sabe. Mas vocês sabiam que, quando criança, penou pra ser alfabetizado?
Na infância, Chateubriand era “gago, raquítico e tímido”, nas palavra de Morais. Tão sociável quanto uma pedra, o menino se escondia na saia da mãe mesmo em idade escolar. Não demorou até que os pais perdessem a fé no sujeito e o despachassem para morar com o avô em uma fazenda.
Foi lá pelos nove anos que ele conheceu uma turminha do barulho e começou a se soltar. Com o passar do tempo, superou a gaguice e trocou as molecagens por umas folhas de jornal. Aí surgiu o interesse pela leitura e só então deu-se início ao processo de alfabetização.
De volta à casa dos progenitores, passou a frequentar saraus de intelectuais em Recife. A partir daí, a vida foi tiro, porrada e bomba. Se meteu com a imprensa. Peitou uns jornalistas do sul e não tardou até que precisasse fazer umas viagens ao Rio (então capital do país), para pedir auxílio ao presidente – sim, tretas pesadas.
Tive sonhos com Chateau – e pesadelos também. A questão é que esse cara me anima. Família humilde, escolarização tardia e zero contatos não o impediram de se tornar o segundo brasileiro a voar pelos céus, um dos únicos jornalistas a entrevistar personalidades resistentes à imprensa, na Europa, e o fundador de um império midiático invejável.
*Eu NÃO acredito em meritocracia, mas, de fato, à época, um pouco de educação era o bastante para se subir na vida. Hoje, a equação ganha uma série de incógnitas e, para os reles mortais, somam-se também os fatores sorte e networking.*
Advogado de diploma, jornalista por profissão e estrategista nos negócios, com certeza seria um dos bambambam que hoje explodem no LinkedIn. Talvez até saísse em uma daquelas listas bizarras no estilo 7 Gurus dos Negócios para se inspirar. Mas, definitivamente sua maior qualidade foi também seu maior defeito. Intransigente que era, raramente voltava atrás nas decisões.
A vida desse homem daria um reality show… E acho que Maria Antonieta poderia até fazer uma participação especial.