A história toda começou lá pelos 14 anos. Eu tinha acabado de me formar no fundamental e seguia feliz com a pele lisinha e um diploma que carregava como troféu na mão. Até então, o mundo era lindo, cor-de-rosa e a vida era o looping eterno de algum clipe da Katy Perry.

Eis que veio a puberdade e quem já passou pelo processo sabe: é bizarro. Um dia, acordei com um ‘meio’ bigode – que cultivo com carinho até hoje -, no outro, três ou quatro pelos na perna; e, no seguinte, uma voz que alternava entre um tom Mr Catra/Anderson Silva. Até aí, segui a filosofia do ‘aceita que dói menos’. Mas, a puberdade, meus amores, essa bixa é destruidora.
Não tardou até que uma erupção cutânea desequilibrasse o layout tão bem elaborado do meu rosto (leonino mode: on). A parada alastrou tipo gripe aviária e, quando me dei conta, eu já era a versão humana do bombom Chokito (drama mexicano mode: on).

Como todo adolescente que se preze, apelei pros métodos ortodoxos: sabonete Asepxia (só mais uma mentira que a publicidade conta), esfoliação facial, esfoliação facial caseira, esfoliação facial caseira com açúcar, ácido retinóico, ácido azelaico, ácido salicílico. Já cogitava ácido sulfúrico – porque já que era pra ter uma pele feia, melhor não ter pele alguma – quando as blogueirinhas começaram com a moda do Roacutan.
Agendei o dermato na hora, imprimi a foto do medicamento e mentalizei o famoso É HOJE QUE VOU LHE USAR. Em três segundos de consulta, doutor Nobu, um velho de uns 70 anos, cortou o barato, olhou na minha cara e disse que eu claramente não tinha condições psicológicas pra esse tipo de tratamento.
Levei três anos pra mostrar que meu estado mental era ótimo (só por fora, obviamente), até que o convenci. Comecei tomando duas cápsulas de 40mg ao dia e, lendo a seção sem fim de efeitos colaterais, tive a certeza de que iria entrar pras estatísticas dos casos raríssimos de sangramento abdominal – o que tava mais que bem, desde que melhorasse a minha pele.

Bastaram três dias de tratamento pra que uma crosta de pele ressecada se formasse sobre a região da boca. O couro cabeludo começou a descamar e rolou uma evolução bizarra de micose em um dos pés – sim, surgimento de fungo também é um dos efeitos colaterais. A pior parte: coçava. Durante o primeiro mês eram a cabeça e o rosto. Depois foram os braços e as pernas. E, quando eu coçava, descamava. Quase uma troca de pele. A vantagem do Roacutan: você assume a cobra que você realmente é.

Ainda no primeiro mês, meus olhos começaram a ressecar. Decidi cancelar a lente de contato, ignorando completamente os três graus de miopia. Numa dessas, entrei no carro errado e só descobri depois de colocar o cinto e anunciar em bom tom um “dá logo a partida, mãe”, enquanto um moço aleatório sem camisa me olhava assustado no banco do motorista. Descancelei a lente de contato.
Os efeitos colaterais quase me venceram, mas resisti. Mesmo descamada, sentia a minha pele maravilhosa. A coceira diminuiu gradativamente e os meses seguintes passaram mais rápido do que eu poderia imaginar.
No fim do processo, a pele já era toda natural e bonita pra caramba.
Então só pra recapitular: puberdade é uma bosta, Asepxia é uma farsa e Roacutan funciona maravilhosamente bem. No mais, provem a saúde mental prx dermatologista de vocês e relaxem, vai ficar tudo bem. Sempre fica, né?!